terça-feira, julho 09, 2013

FLIP 2013 - Um punhado do que ficou comigo.


Quero compartilhar com vocês um pouco do que absorvi deste dia de domingo que passei pela 11º FLIP em Paraty-RJ.
Neste ano, o festival homenageou o escritor Graciliano Ramos, figura importante na literatura brasileira, mas também na minha história, momento este que deu um gosto especial nestas minhas férias.

Não pelo fato de poder acessar um evento e me sentar perto de famosos como Antonio Fagundes, Marina Silva, etc, encontrar os debatedores do evento na mesa de praia, nas lojas da cidade, etc., mas por estar num momento e lugar tão conectados com essa fase de vida que considero nova.

Na primeira mesa dos autores, tive a certeza definitiva que estou profundamente conectado com minhas escolhas e minha história. Graciliano Ramos, por sua obra "Vidas Secas", me fez tanto começar a entender minha origem e a dos meus pais, quanto abriu as portas da liberdade que me conduziu ao Serviço Social, paixão que me aplaca desde então e me pôs no barco que me levou e me leva num cotidiano de sentimentos e concretudes irrevogáveis e que me fazem mais eu, o eu com o todo que me cerca.
Os críticos literários e estudiosos da obra de Graciliano aprofundaram um instigante debate, percorrendo as diversas possibilidades de se captar conexões entre arte, denúncia, política e paixões na escrita do autor, cujo estilo marcou a história da literatura brasileira pela inquietude e implicações político-sociais que causa em seus leitores. Um aspecto interessante foi a discussão sobre como se dariam os vínculos de Graciliano Ramos hoje, em época de textos curtos e eletronicamente vinculados ao instantâneo dos blogs e das redes sociais. A conclusão que cheguei é o inverso do problema, ou seja, como seriam as características literárias dos blogueiros, etc. se não existisse a influência da crítica, da contundência, da acidez política, da ironia, da concretude e da paixão que certamente foram impressos por Graciliano na nossa linguagem brasileira?
A mesa da tarde, que debateu a relação entre literatura e revolução, contaria com a presença do escritor egípcio Tamim Al Barghoutti que infelizmente cancelou sua participação devido a contratempo no aeroporto de Londres, onde faria conexão para o Brasil. Entretanto, sua carta com pedido de desculpas emocionou a platéia ao relacionar de forma crítica o contratempo que teve, com as tentativas de classificarem as manifestações sociais do mundo árabe também de "contratempos" políticos, ainda que sejam eventos bastante controversos e complexos.
Em substituição ao autor egípcio, tivemos as presenças de peso de Vladmir Safatle e de Milton Hatoum, ambos de origem familiar árabe e conectados com os desdobramentos políticos e sócio-culturais daquela região. Os autores trouxeram diversas formas de se compreender o caminho que a literatura pode percorrer em um contexto de turbulência política de uma sociedade ou de uma cultura. Citaram as experiências que escritos populares nos rincões das sociedades árabes, tiveram na incursão das pessoas às manifestações e confrontos políticos que mudaram ou que anseiam mudanças em seus países.
Situaram também que a literatura deve, além de não ser usada para doutrinar e sim para enriquecer a cultura, acompanhar o movimento político sem se preocupar em explicá-lo, nem categorizá-lo de "revolução" de "revolta" etc., dado que os próprios personagens envolvidos precisam ser ouvidos e terem a chance de serem compreendidos em sua originalidade (pois, somente sabemos destes contextos do ponto de vista ocidental e, principalmente, euro-americano). Assim, ilustraram o debate, afirmando que os resultados de um grande movimento social, ao ser expresso pela literatura, devem retratar principalmente suas contradições e seu movimento dialético, de idas e vindas, para que se faça presença também como marca cultural de uma época.
A última mesa que acompanhei, agora pelo telão, foi a penúltima atividade do evento e discutiu como o Ensaio pode ser uma forma de expressão artística e literária, sem necessitar de uma forma tacitamente definida, como ocorre no Brasil, por exemplo, onde o estilo está ligado à produção acadêmica. Os debatedores, ambos de cultura anglo-saxã, expuseram os caminhos que percorrem para concretizarem seus escritos que não só querem oferecer elementos literários aos seus leitores, mas também proporcionar contato intenso e livre com o conhecimento e com as formas sociais de se relacionar com eles.
Encerro citando que, dentre várias emoções e aprendizados, é preciso um olhar diferente antes de afirmar que a FLIP é somente um festival elitizado. É claro que, sendo produto de mercado, a literatura de destaque vai agregar valor de capital, ainda mais num ponto turístico espetacular que é a cidade de Paraty. Porém,  ao descobrir que a FLIP agrega condições de apoio e parceria com outros eventos literários Brasil à fora, como a FLUPP, festa literária das favelas do Rio de Janeiro, se pode ampliar o alcance de sua importância.
Evidente que pensar em se hospedar em Paraty e custear a participação integral na FLIP exige preparar bem o bolso com bastante antecedência. Mas, quando se tem amigos pode ser muito diferente. Por exemplo, se pode juntar uma galera para passar um dia ou dois na FLIP, mas se hospedando em Ubatuba (fica há 1 hora de carro, saindo do Centro) no Recanto dos Grilos, dos meus amigos Rui e Vera e depois desfrutar da cidade, escolhendo algumas das 100 praias deste paraíso paulista, além de poder dar um trato no visual visitando o salão DMA ou a Daniel Barbearia, sendo muito bem recebidos pelos queridos amigos Daniel e Meyre.
Até a próxima!

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