quinta-feira, agosto 23, 2018

Que Raiva!

Résurection-2002
"Résurection" - Denis Truchi, 2002.

Da raiva de ser o que se é
Moralmente privilegiado
Consciente
Pateticamente ridicularizado

Sexo frágil
Desconstrutivamente potente
Seguidamente carente
Derradeiramente ausente

Inspiro alternativa
À díspar masculinidade
Expiro reiterativa
À banal casualidade

Na alheia alteridade, um alento
Pura humanidade
Dialético movimento
Revogando autoridade

quarta-feira, julho 04, 2018

Reedição

"Daybreak Tagesanbruch" - Joan Mirò, 1968

Poeta que parou de escrever, eu
Fustigado pelo normal
Breu, assalto raso em minha luz
Cotidiano óbvio e cordial

Procura de motivo?
Ora, motiva é a minha carne viva
Sem desculpa pro não derivo
Nem arranjo pra deriva

Arroguei o saber do real
Sem veio alienante
Estúpida e banal
Convicção mais vacilante

Da masculina solidão
Agudo, o sinal acendeu
Reclamação provida
Poeta que voltou a escrever, eu

terça-feira, junho 16, 2015

Grávido



Condições escravas
Estar sempre pronto e viril
São cobranças sem demora
Como cobra a guerra ao fuzil

Responder ao dia-a-dia
Com orgulho irretocável
Pra de frente com o todo
Referir ao improvável

Prestar contas ao patriarcado
Provar honra que não é tua
Recusando a descendência
Protesto duro quanto o de rua

Outras razões pra se orgulhar
Se ver no mundo com novo saber
De esperança estava raso
No mero ato de conceber

A ninguém precisava provar
E a todo mundo fiz saber
Só não sabia de mim mesmo
O que fiz pra me fazer doer

Passam pessoas e a idade
Só não passam convicções
Amamentadas na vaidade
Prenhas de muitas lições

Um aborto próprio de mim
Mas nas tuas agruras vi
Mas os planos quando são de dois
Podemos fundir no âmago de si

Outro homem hoje sou
Morando em você, meu lugar
A ti entreguei meu corpo
Pra reverências à vida propiciar

Servo da tua honra
Me encontro na vida, renovado
E tua leveza solene, no mundo me põe
Grávido!