terça-feira, outubro 26, 2010

O Legal Obscuro do Aborto

Me atrevo a dar uma palavrinha masculina sobre o aborto.
Bom, já ouvi de várias mulheres que a opinião masculina sobre isso é desprovida de concretude, pela obviedade de eu não poder engravidar. Porém, não me furto a ter opinião sobre pelo fato de ser de outro gênero ou apenas por uma questão moral, mas pela consciência política em relação à cidadania presumida para um estado laico.

Sobre moralidade: sabiam as mulheres (e talvez até alguns homens) que há moralidade conservadora correspondente ao aborto para os homens? A masturbação é pecado mortal para o cristianismo católico e tem duas raízes de fundamento: a atitude egoísta de ter prazer individual e...o assassinato dos espermatozóides...
Isso mesmo! Para São Tomás de Aquino (pai do Tomismo e fonte do Neotomismo), os espermatozóides geravam a vida e, portanto, teriam de ser externados apenas em relações sexuais com fins procriativos, do contrário estaríamos "matando-os". Existiu até pena de morte para o réu...
É claro que a amplitude social de reprodução desta característica moral masculina não permaneceu com o fôlego que ainda tem o aborto, e é aí que eu queria chegar.
Essa moralidade não se tornou inócua apenas porque a ciência comprovou que o desenvolvimento biológico humano inicial depende também do óvulo feminino, mas porque a base machista e patriarcal que fundamenta nosso cotidiano autoriza os homens a transgredirem, pela legitimação que lhes dão em face da culpa moral que deve recair sempre nas costas femininas, em detrimento da efetivação da sua plena liberdade, inclusive, de exercitar sua reflexão moral acerca do que pensa e faz com seu corpo, assim como para os homens é aceito.
Em outras palavras, com as que fundamentam a laicidade conquistada pela humanidade à duras penas (e vidas!), quero dizer que uma sociedade laica deve garantir políticas públicas que atendam vulnerabilidades de âmbito coletivo, e que tais ações sejam alheias de julgamento judicial em relação à moralidade que se impõe, ou seja, a liberdade da mulher ser favorável ou não ao aborto, não previne nem acolhe a demanda de outra que possa se situar num contexto semelhante, mas tomar decisões éticas distintas.
Um Estado Laico deve garantir a liberdade de reprodução moral religiosa e, ao mesmo tempo, não se constituir com fundamento em nenhuma e, assim, atender a TODAS as vicissitudes sociais com universalidade e qualidade.
Chega de mulheres morrendo em nome da moralidade machista!