terça-feira, junho 16, 2015

Grávido



Condições escravas
Estar sempre pronto e viril
São cobranças sem demora
Como cobra a guerra ao fuzil

Responder ao dia-a-dia
Com orgulho irretocável
Pra de frente com o todo
Referir ao improvável

Prestar contas ao patriarcado
Provar honra que não é tua
Recusando a descendência
Protesto duro quanto o de rua

Outras razões pra se orgulhar
Se ver no mundo com novo saber
De esperança estava raso
No mero ato de conceber

A ninguém precisava provar
E a todo mundo fiz saber
Só não sabia de mim mesmo
O que fiz pra me fazer doer

Passam pessoas e a idade
Só não passam convicções
Amamentadas na vaidade
Prenhas de muitas lições

Um aborto próprio de mim
Mas nas tuas agruras vi
Mas os planos quando são de dois
Podemos fundir no âmago de si

Outro homem hoje sou
Morando em você, meu lugar
A ti entreguei meu corpo
Pra reverências à vida propiciar

Servo da tua honra
Me encontro na vida, renovado
E tua leveza solene, no mundo me põe
Grávido!

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Fruto da Saudade



Da palavra que só existe na minha língua
Que maltrata ao natural
Irrevogável dureza
Só sei que dói, nesse peito que míngua.

Agonia chega no anúncio de despedida
Aperta o compasso de espera
No ampliar da distância
Se renova a cada beijo de partida.

Da esperança ficou um lampejo, uma chance de revolta
Contra esse desassossego
Volto a sorrir quando vejo
Que você pode me ter enquanto não volta.

Ainda que de passagem
Uma parte de mim em você
Fez outro tu, outro eu
Pra mostrar que a saudade
Pode ser o começo de uma nova viagem.