domingo, abril 21, 2013

"O que é bom para os EUA é bom para o Brasil"?


Recomendo muito assistir ao documentário "O Dia que Durou 21 anos", principalmente para aqueles que nasceram a partir de 1980; para quem se recorda pouco do clima do regime ditatorial quando era criança ou para qualquer brasileiro que queira descobrir o quanto fomos (e ainda somos) manipulados pelo ideário de "democracia" estadunidense.
Os mais jovens, que conheceram o simpático personagem da Disney "Zé Carioca", talvez não sabem que a criação dele fez parte do início de um projeto dos Estados Unidos da América para ganhar aliados entre os países latinoamericanos a partir da Segunda Guerra Mundial, buscando referências lúdicas que pudessem agregar a cultura local do país ao "american way of life", estabelecendo assim influência política e cultural sobre a América Latina.
Porém, o documentário não traz engraçadas aventuras do Zé Carioca, mas sim, a revelação de uma triste página da história política brasileira que foi o Golpe Militar executado contra o nossa jovem, mas promissora democracia em 01 de abril de 1964 e a consequente instalação da Ditadura Militar que duraria até 1985. Neste sentido, a produção expõe uma cuidadosa edição de documentos secretos da Casa Branca e da CIA, revelados depois de 40 anos, quando finalizado o período de arquivo protegido.
Tristeza, raiva, nojo, indignação foi o que senti ao acompanhar o desenrolar de toda a conspiração, corrupção e desrespeito à soberania do Brasil que os EUA empenharam contra nós, organizados no documentário. A partir da espetacular derrota sofrida em Cuba, com a revolução socialista de 1959, os EUA, com receio de nova incursão de influência política advinda da então URSS e do Bloco Socialista, incrementaram seu projeto de manutenção da influência na América Latina, agora, porém, não mais com as quase inocentes aventuras dos personagens da Disney, mas com a arquitetura de golpes militares e instalação de ditaduras em praticamente todos os países do continente, tendo o Brasil como foco, em virtude da importância política e econômica local e das intenções por "reformas de base" pelo então presidente brasileiro, João Goulart (Jango), comparadas sordidamente pelos EUA como "projeto de instalação do comunismo no Brasil" .
Desde telegramas e telex dos embaixadores estadunidenses no Brasil à Casa Branca, até os áudios de conversas com os então presidentes dos EUA John Kennedy e Lyndon Johnson, mostra-se irrefutável a consolidação da tese que os lutadores sociais e defensores da democracia brasileira sempre pautaram, de que os EUA desenharam, articularam, infiltraram, financiaram e mantiveram não só o Golpe de 1964, mas praticamente toda a sustentação política do regime militar ditatorial que ceifou considerável capacidade de luta política de várias gerações de brasileiros, mas, porém, sempre negando oficialmente tal participação.
Penso que refletir sobre o que nos traz o documentário é importante para entendermos o que concretamente seja, de fato, ser fã dos EUA e do seu "way of life" ou até mesmo ser "antiamericano". Porque a produção nos remete primeiro, e obrigatoriamente, a pensar no que significa ser brasileiro hoje em dia.