segunda-feira, janeiro 21, 2013

Os Machos Ômega


Via de regra, eu discordo da linha de reflexão do articulista Pondé, da Folha de SP, mas dessa vez, concordei com ele em boa parte do que discute no artigo "Homens que não bancam" publicado hoje.
Desde bebê, somos ensinados pelo papai e principalmente pela mamãe, a criar para si a sofrida necessidade de idealizar e percorrer o caminho ético de ser um "Macho Alfa".
Vejo que isso entra em choque com o notável desenvolvimento do papel feminino em sociedade, mostrando que estuda mais do que os homens e disputa cara-a-cara as competências profissionais e cotidianas antes delegadas a nós, candidatos "naturais" a provar que conseguem "bancar" tudo no mundo e também tudo para elas.
Falo isso a partir de experiência própria, pois como assistente social, onde 95% da categoria é do sexo feminino (conf. levantamento do CFESS e, 2005 [que precisa ser atualizado, pois é nítido o crescimento do sexo masculino no meio profissional]), se colocar como paladino do "Macho Alfa" é assinar, de saída, que não conseguirá bancar, de fato, as exigências e enfrentamentos da profissão. Porém, quando me lembro que, enquanto recém-formado assistente social, uma colega, ao me entrevistar para seleção em um espaço de trabalho, me perguntou: "você é um homem mole?", fico confuso...
Por outro lado, no plano social, compartilho com o autor ao visualizar que o universo feminino ainda passeia bem gostoso nessa necessidade tradicional e conservadora de, mesmo com autonomia (moral e financeira nas mãos), muitas mulheres nos classificam nesse ranking como maneira de escolher ou manter um relacionamento, seja afetivo ou não.
É alta a reclamação de que "somos pouco no mercado" e que nos falta "sensibilidade, parceria e sinceridade" para "conquistar" a presença feminina. Ou seja, a possibilidade de ser conquistado fica onde quando não ser quer reproduzir o tipo "Macho alfa"?
Não consigo imaginar que o velho ditado "Atrás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher" ainda acaricia os ouvidos femininos.
Porquê "atrás" e não "ao lado"? Nem na frente e nem atrás, ao lado mesmo, como parceiros dispostos a compartilhar os enfrentamentos cotidianos.

quinta-feira, janeiro 17, 2013

Perfeita felicidade?



Eram mesmo sábias as palavras que José Saramago nos deixou sobre a perfeição, quando dizia que "há momentos assim na vida: descobre-se inesperadamente que a perfeição existe, que é também ela uma pequena esfera que viaja no tempo, vazia, transparente, luminosa, e que às vezes (raras vezes) vem na nossa direção, rodeia-nos por breves instantes e continua para outras paragens e outras gentes."

E a felicidade em ver e ser acompanhado por essa "esfera"? Indescritível! Você se sente pleno, absoluto, poderoso diante da vida. Chega-se até começar a aprender a seguir o voo dessa "esfera", mas ela não permite que aprendamos tudo, e é nesse momento que ela vai embora...

Vai, deixando a eterna questão do porquê não temos o "direito" de ter uma vida perfeita para sempre. E as aspas são mesmo de questionamento, pois ao invés de apreciar as idas e vindas da "esfera", escolhemos com mais facilidade a postura mais fácil, que é a de lamentar a perda, se vitimizar, se autoatribuir "direitos" e exigências precípuas que, em geral, não condizem com a realidade à sua volta.

Estava aqui e por que se foi a "perfeição"? Para onde ela foi?

Talvez ela vá rodear aquele/a de coração livre, menos impregnado de bolor histórico. Ou então, vá convidar com sua beleza a sensibilidade justamente daqueles/as que tem "certeza" de que estão no caminho da perfeição, mesmo ruminando crenças de que o outro não deve ser perfeito.

Fico avistando no horizonte e no tempo...