domingo, novembro 27, 2011

"Viver sem Tempos Mortos"



Ontem, tive uma experiência cultural que me ofereceu condições fundamentais para uma reflexão crítica da minha humanidade.
Primeiramente, destaco a atriz Fernanda Montenegro, 80 anos de idade, 65 anos de carreira, que ao literalmente encarnar Simone de Beauvoir no monólogo teatral de 60 minutos: "Viver sem Tempos Mortos", estabeleceu um marco na história do teatro brasileiro e, ao mesmo tempo, contribuiu com fundamentos para a cultura brasileira discutir com mais primor a liberdade em face do gênero feminino.
Em segundo lugar (e com decidida menor importância), vem a reflexão sobre mim. Eu, do sexo masculino, educado primariamente com base na afirmação de que esta condição biológica é superior à feminina, me senti absolutamente ridículo não somente ao me comparar com a postura social de Baeuvoir e de Fernanda Montenegro, mas em extensão a todo movimento nesta direção feito por qualquer mulher do mundo.
Valido esta ridicularidade mesmo tendo consciência de que permaneço percorrendo numa direção para uma filosofia de vida em que a cada dia precise menos do machismo para me sustentar socialmente. De fato, é humanamente enriquecedor questionar e até romper com alguns privilégios sociais que o machismo dá ao sujeito do sexo masculino, na medida em que escolhemos por posições legítimas vinculadas aos valores do feminismo.
Mas, minhas demoradas conquistas históricas nesta lida não se equiparam a um dia sequer que alguma mulher conte como histórico na legitimação de sua autonomia em sociedade.
Beauvoir constatou que o mundo é masculino. Continuarei tentando alimentar seu sonho de que seria melhor se não se precisasse constatar isso, para que os dois gêneros possam conviver "sem tempos mortos".