Retrô é retrocesso
Retrospectivas vãs
Retroativismos hipócritas
Tudo que vejo é retrô
Serei eu também?
Exceto uma ou outra progressividade
Está o retrô
Inversamente concebido nesta falsa existência
Onde deveria ser meio
É fim
Se o que pensamos é derivado daquilo que fazemos
E, logo, o que fazemos é derivado daquilo que pensamos,
Por que negar esta dialética ao vislumbrar o passado?
Na vala do retrô estão as ideologias
Quase todas se apóiam no retrô
Para aliviar o medo de refletir a si mesmas
A fé não questiona mais a verdade
Criou suas próprias verdades
E as sustentam no retrô
Na nostalgia mórbida
A filosofia respira vacilante
Busca o ar puro da racionalidade
Num ambiente sufocante
De ar mofado pela banalidade
A música e a arte
O cinema e o teatro
A poesia e a literatura
Quando não reciclados pela estupidez capitalista
Nos remetem lembranças doces
Mas pouco fomentam a verdadeira vida
O amor continua sendo inexplicável na sua essência
Por excesso dele o ser humano sente-se solitário no desejo de amores novos
Por carência dele se deleita, em massa, em amores recauchutados
Importa amar o que se quer
Para transformar o que se tem
Sem retrô e nem complô
Com novas raízes e matrizes
Revolucionar o velho
Para esculpir o novo
Luciano Alves